Reflexão : O que é ser Mulher hoje em dia?

Basicamente, ser mulher é ter nascido com os cromossomos XX. Será que isso responde a questão? Responde, só que de modo desaforado. Espera-se que colaboremos: " Ser mulher é ser mãe, esposa, profissional..." Alguém ainda aguenta essa chorumela? 
Se é para refletir sobre o assunto, então sejamos francos: ninguém mais sabe direito o que é ser mulher. Sofremos uma descaracterização - perder as características. Necessária, porém aflitiva
Entramos no mercado de trabalho, passamos a ter liberdade sexual e deixamos para ter filhos mais tarde, se calhar. Somos presidentes, diretoras, empresárias, ministras. Sustentamos a casa. Escolhemos nossos carros.Viajamos a serviço. Saímos à noite com as amigas. Praticamos boxe.
O que é ser mulher, nos pergunta ?.
Pois, hoje, ser mulher é praticamente ser um homem.
Nossa masculinização é um fato. Ok - nenhuma mulher desistirá de tudo o que conquistou. A independência é um ganho real para nós, para nossa família e para a sociedade. Saímos da sombra e passamos existir de forma plena. E o mundo se tornou mais heterogêneo e democrático, mais dinâmico e produtivo, em suma: muito mais interessante. Mas não nos deram nada de mão beijada, ganhamos posições no grito, falando grosso. E agora está difícil reconhecer nossa própria voz.
"Sou mais macho do que muito homem" não é apenas o verso de uma música de Rita Lee, é pensamento recorrente de cérebros femininos.
Algúem ainda conhece uma mulher reprimida, omissa, sem opinião, sem pulso? Foram extintas e deram lugar às eloquentes.
Nada de errado, repito. Acumulamos uma energia bivolt e isso tem nos trazido inúmeros benefícios - deixamos de ser um simples acessório, nos integralizamos.
Mas essa nova mulher se permitirá um segundinho de "Cuida de mim"?
Se os homens estão se permitindo ser frágeis, por que não nos permitimos também, nos que temos os royalties dessa condição?
É no amor que a mulher recupera a sua feminilidade. É na relação a dois.  Na autorização que dá a si mesma de se sentir cansada e de permitir que o outro tome decisões e a surpreenda. É através do amor que voltamos a confiar cegamente, a baixar a guarda e a deixar que nos seduzam - sem considerar isso ofensivo.
Muitas mulheres estão desistindo de investir num relacionamento por se julgarem incapazes de jogar o jogo ancestral: eu, provedor; você minha fêmea. Os homens sabem que já não iremos nos contentar em receber  mesada e ficar em casa guardando a ninhada, mas, na intimidade, que tal deixarmos a testosterona e o estrogênio interpretarem seus papéis convencionais?
Um amor sem tanta racionalidade, sem demarcação de território, sem guerra pelo poder. Amolecer se vez em quando, com entrega total, com gosto. É onde ainda podemos ressuscitar a "Mulher" que fomos, sem prejuízo à mulher que somos.

REVISTA O GLOBO
MARTHA MEDEIROS - ESCRITORA

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